O Seguro Pós-Morte.
Foi-se a época na qual colocávamos a segurança do corpo do nosso ente querido aos cuidados do coveiro e do jardineiro de cemitério. Na realidade, acredita-se que esteja se passando a época em que a "passagem" é eterna.
Cientistas, políticos e intelectuais meia boca começam a acreditar na ressurreição cientifica como possibilidade, para os próximos séculos ou para os mais entusiasmados, décadas. Não menos entusiasmadas são as companhias que começam a trabalhar em cima deste processo imaginário para faturar uma grana preta com todos os otários cheios da grana que pretendem reverter o "ciclo da vida"(Mufasa, 1994), para poder consumir eternamente. A criologia patrocinada por algum bilionário ou vários milionários iniciaram a poucos anos um processo de "seguro de morte" onde as pessoas, pagando uma taxa de U$100 por mês pode, no momento da morte, usufruir dos benefícios de ser congelado em nitrogênio, de cabeça para baixo, e, contando com a ajuda das próximas gerações de sua família, ser revivido após, no máximo, 300 anos.
O que é mais empolgante é a capacidade de se acreditar nisto a ponto de gastar U$150.000 com um sonho de vencer a morte. 60 corpos já estão congelados esperando por sua vez, e mais de 3.000 já estão segurados e no momento em que bater as botas à empresa responsável (a seguradora) se responsabiliza pelo transporte e etc. Todos eles, claro, cientistas, visionários (ricos), acionistas de grandes corporações. Acredito até que algum Bush já esteja pronto para assumir a presidência dos Estados Unidos daqui a alguns séculos. Difícil é acreditar que algum tataraneto vai continuar pagando para um parente distante um dia voltar a vida.
Mais fascinante do que o caráter transcendental da ciência destes "homens bicentenários" é a presunção de se sentir útil em uma sociedade 300 anos a frente. O que entendemos dos intelectuais e cientistas do Século XVIII? Como vemos a população daquela época? Seria como querer ressuscitar pessoas como Auguste Comte ou pior, um pouco mais recentemente, querer trazer de volta pessoas como o Barão de Mauá e Gobineau e seu racismo cientifico ou até celebridades do absolutismo; monarcas conservadores e papas inquisidores. Certo que alguns teóricos do século XVIII tiveram muita importância, mas, o atraso de suas concepções de mundo é clara hoje em dia. As coisas mudam e o passado é só a forma dos waffles (Marvin. 1956).
Óbvio, é possível acreditar que grandes escritores, pintores, intelectuais, filósofos e cientistas da atualidade sirvam de base para uma futura civilização, 100, 200, 300 anos à frente, mas sua futura ressurreição só despertaria o fascínio dos futuros humanos em relação ao peculiar e atrasado jeito de ser dos humanos do passado; seu estranho método cientifico, sua lógica incorreta, sua falta de compreensão dos fenômenos físicos e do universo, sua falta de compreensão de si mesmo. Um político americano ressuscita e procura se comunicar, mas, que estranho, todos falam sânscrito moderno, na verdade, há dois séculos os Estados Unidos se desuniram para a formação de vários pequenos países fundamentalistas cristãos. Um cientista holandês ressuscitado procura seu país no mapa, mas só vê oceano. Um acionista da GM procura sobreviver no futuro, mas não vê capital especulativo, mercado de consumo, nem pessoas para explorar - só não morre de fome porque as pessoas pretendem fazer experimentos científicos sobre a composição orgânica de um carnívoro. O acionista apenas encontra uma sociedade econômica moldada em uma lógica totalmente diferente, muito mais complexa e mais estratificada.
Não posso negar qualquer curiosidade em relação ao futuro. Gostaria de saber todas as mudanças das sociedades, das guerras, das artes, do amor, da liberdade, da filosofia. Só não posso garantir que entendesse alguma coisa, depois de dormir 300 anos e perder toda a contextualização histórica. O que aconteceu com o Brasil na história?
Essa lucrativa empresa funerária é uma forma criativa e nova de enrolar pessoas ricas, partindo do medo da morte e do medo de todos os riscos de um período de incertezas e desordens. O ser humano criou um mecanismo totalmente novo de seguridade social, o seguro pós-morte. Outros criaram um ótimo sistema de adquirir dinheiro fácil, por pouco tempo, claro, pois ninguém vive para sempre não é?
Por Galileu Fikaporay.
As pessoas gastavam bem menos dinhiero sendo cristãs... rss
7:49 AM
interessante, vou procurar trabalhar nisso(/me com olhos de cifrão $.$)
4:58 AM
É impressionante como alguns podem ser tão babacas e sem imaginação. No século passado ainda se era mandado para a fogueira se falasse em televisão. Fique sabendo, patinho feio, que a humanidade não tem limites e vc, na ânsia de fazer gracinhas, está atrasado.
4:58 AM
É impressionante como alguns podem ser tão babacas e sem imaginação. No século passado ainda se era mandado para a fogueira se falasse em televisão. Fique sabendo, patinho feio, que a humanidade não tem limites e vc, na ânsia de fazer gracinhas, está atrasado.
3:14 PM
Caro anônimo...
Alguém já foi para a fogueira por causa de uma televisão? Eu já viu cara ficar preso numa chaminé por isso ao tentar roubar isso...quase lá não?
Claro que somos graciosos, claro que somos atrasados. Sua furia de criologista só confirmou o que eu quis dizer no texto...
Se já somos atrasados hoje, imagine daqui a 300 anos? Eu sinceramente, acredito que possa ser possivel ressucitar os seres humanos, a pergunta é...pra que?
» Postar um comentário