Der, Die oder Das?
Minha maior dificuldade quando eu estudava alemão era lembrar que palavras eram do gênero masculino, feminino ou neutro. Observo que é igualmente difícil pros gringos lidar com nossos dois gêneros também, acertar o "sexo" das coisas.
Mas, o que determina o gênero das coisas? É assim aleatório mesmo..
Desde quando eu era muito pequena, tinha muito orgulho de ser mulher . Nunca quis ser homem "porque era mais fácil" como alguns afirmam. Sempre quis ser mulher mesmo, com menstruação, TPM, dor do parto, depilação, salto, maquiagem e todas as outras desgraças às quais temos direito.
Talvez porque na minha cabeça de infanta, mulher era mais sensível, mais bonita, mais complexa, delicada, capaz de controlar tudo de um jeito sutil e elegante. Eu era Catherine Zeta-Jones de roupa sintética colada e salto 12 sem mover um fio de cabelo espionando, ou as panteras, ou she-ra (ela era muito mais legal que he-man), ou shena (que também era muito mais legal que hércules). Ser mulher era ter poder e ainda poder vestir um vestidinho branco e fazer cara de pura pro mocinho te olhar encantado.
Mas sejamos francos: O que diferencia o homem da mulher? Não em termos de projeções anatômicas, essas nós conhecemos. Os hormônios? Toda aquela baboseira de "a mulher se prepara pra receber a criança.."? Será mesmo que somente substituir o estrógeno pela testosterona faz de uma mulher um homem?
Tá, eu acredito que há milhares de anos o processo evolutivo interferiu na nossa cultura afetando nossas relações entre os sexos. Mas não podemos mais dizer que é esse instinto que nos diferencia, muito menos culpar esses instintos por uma série de insultos que ambos os lados sofrem com o machismo. As diferenças salariais, o comportamento discriminante, os pesos e medidas, as meninas de rosa e os meninos de azul.. Tudo por causa de esteróides e da nossa época paleolítica?
Hoje, dadas as condições do século 21, acho que nós não nascemos com sexo algum. A gente vai decidindo o que quer ser, sob forte pressão social pra adotarmos o gênero dos nossos órgãos sexuais. Mas eu acredito que a opção sexual hoje em dia é bem mais do que escolher com que instrumentos a gente quer fazer sexo.
Por exemplo, gays são realmente homens querendo ser mulheres? Pra mim a maior parte dos gays quer mesmo é ser gay. Um sexo diferente. Uma revista dessas fez um dia uma pesquisa sobre se gays têm sotaque próprio. E por incrível que pareça (ou não), a maioria esmagadora dos gays foi reconhecida às escuras pela forma de falar simplesmente. E não porque falassem como mulheres, porque falavam como gays, oras!
Acho que estamos caminhando pra um momento em que as diferenças sociais é que determinam nosso sexo.
A mulher na sociedade já passou por maus bocados, já mudou de forma várias vezes (não só de gorda pra magra), já até exagerou pro lado feminista, já esteve por cima. E o pior que isso, justamente isso, foi majoritariamente decidido pelos homens, decidindo o que era mais cômodo enquanto as mulheres se ocupavam com seus excessos proliferativos. Aí está o segredo.
Nas origens ocidentais, greco-romanas, houve um tempo em que as mulheres só não eram desprezíveis por sua função reprodutiva e às vezes como organizadora do lar. Mas até a beleza era exclusividade masculina, e um homem só dava prazer a outro homem.
Durante outro período um tanto turvo, a imagem da mulher era então a beleza. A pura beleza. Com suas nobres damas européias, madonas e virgens. No entanto eram incapazes de inteligência e força de qualquer tipo. Eram delicadas demais em suas peles cheias de pó de arroz, sob trezentas camadas de seda, com suas lágrimas e palpitações. Observe-se que no entanto, as prostitutas sempre foram consideravelmente fortes.
Os homens no entanto, que sempre foram encarregados dos trabalhos braçais e burocráticos, andam cansados, agora querem somente os papéis intelectuais e de controle. Agora é mais conveniente que as mulheres possam sim dirigir, possam ser cobradoras e etc. Já houve uma época, diga-se de passagem, que até enfermagem era profissão estritamente masculina.
E assim magicamente, de inúteis e feias passaram a inúteis e belas, e agora úteis e belas.
E (o que nos garante ascensão no mercado de trabalho) muito mais barateiras! Como é conveniente para os homens.
Hoje está tão certo pro mundo que a beleza suprema é a mulher, explorado em capas de revistas, na TV, cada milímetro de seus corpos curvescentes, que as próprias mulheres, provando a falta de instinto, acham as mulheres mais bonitas mesmo que os homens. O índice de bissexualismo/homossexualismo entre as mulheres, estimulado pelo machismo, cresce ferozmente. Confunde-se o que é contra o machismo e o que é forçado por ele.
Desde miudinhas aprendemos a supervalorizar nossos hormônios, a fingir que nosso lado racional é atrofiado, que não dirigimos bem, não podemos mexer em máquinas, exceto as de costura, que os vestidos brancos de casamento são a coisa mais linda do mundo, que devemos reprimir nossa promiscuidade diante da promiscuidade masculina, e a trabalhar TAMBÉM, além de cuidar da casa e dos filhos, o que é nosso papel "natural".
De qualquer forma, dentro dos meus conceitos machistas, da cultura impregnada em mim das unhas ao último pensamento, eu ainda escolheria ser "mulher". A mulher desenhada mesmo, fascinante debaixo de suas 7 saias de estrógeno, dos 7 véus do útero. Carregando os meninos na barriga, e todos seus sentimentos e estética nas costas.
Só que agora estamos decidindo. Estamos finalmente tomando pílula e indo opinar. E acredito que o mundo pode agora começar a ficar igualmente cômodo pra todos os sexos. Primeiro o homem e a mulher, depois o homem, a mulher, o gay.
Então aproveitemos, mulheres, e homens com senso de justiça. Lutemos pra sermos todos humanos e ponto, sem deixar que atrofie no que nos dizem que nascemos atrofiados, pra não ter que agüentar o que nos dizem que deve ser agüentado, pra todos os humanos poderem aproveitar igualmente tudo o que nossos sentidos , hormônios, sexualidades nos permitem, e quando queremos. (e continuemos o processo evolutivo abolindo o funcionalismo sexual, escolhamos nós mesmos se queremos ser Der, Die, oder Das, e o que é Der, Die e Das.)
Uma sociedade tão rica em variações de personalidade, jamais seria andrógina, mas poderia certamente ser justa.
Muita libido a todos, todas, e tod@s.
Mary Fouleaux
Mas, o que determina o gênero das coisas? É assim aleatório mesmo..
Desde quando eu era muito pequena, tinha muito orgulho de ser mulher . Nunca quis ser homem "porque era mais fácil" como alguns afirmam. Sempre quis ser mulher mesmo, com menstruação, TPM, dor do parto, depilação, salto, maquiagem e todas as outras desgraças às quais temos direito.
Talvez porque na minha cabeça de infanta, mulher era mais sensível, mais bonita, mais complexa, delicada, capaz de controlar tudo de um jeito sutil e elegante. Eu era Catherine Zeta-Jones de roupa sintética colada e salto 12 sem mover um fio de cabelo espionando, ou as panteras, ou she-ra (ela era muito mais legal que he-man), ou shena (que também era muito mais legal que hércules). Ser mulher era ter poder e ainda poder vestir um vestidinho branco e fazer cara de pura pro mocinho te olhar encantado.
Mas sejamos francos: O que diferencia o homem da mulher? Não em termos de projeções anatômicas, essas nós conhecemos. Os hormônios? Toda aquela baboseira de "a mulher se prepara pra receber a criança.."? Será mesmo que somente substituir o estrógeno pela testosterona faz de uma mulher um homem?
Tá, eu acredito que há milhares de anos o processo evolutivo interferiu na nossa cultura afetando nossas relações entre os sexos. Mas não podemos mais dizer que é esse instinto que nos diferencia, muito menos culpar esses instintos por uma série de insultos que ambos os lados sofrem com o machismo. As diferenças salariais, o comportamento discriminante, os pesos e medidas, as meninas de rosa e os meninos de azul.. Tudo por causa de esteróides e da nossa época paleolítica?
Hoje, dadas as condições do século 21, acho que nós não nascemos com sexo algum. A gente vai decidindo o que quer ser, sob forte pressão social pra adotarmos o gênero dos nossos órgãos sexuais. Mas eu acredito que a opção sexual hoje em dia é bem mais do que escolher com que instrumentos a gente quer fazer sexo.
Por exemplo, gays são realmente homens querendo ser mulheres? Pra mim a maior parte dos gays quer mesmo é ser gay. Um sexo diferente. Uma revista dessas fez um dia uma pesquisa sobre se gays têm sotaque próprio. E por incrível que pareça (ou não), a maioria esmagadora dos gays foi reconhecida às escuras pela forma de falar simplesmente. E não porque falassem como mulheres, porque falavam como gays, oras!
Acho que estamos caminhando pra um momento em que as diferenças sociais é que determinam nosso sexo.
A mulher na sociedade já passou por maus bocados, já mudou de forma várias vezes (não só de gorda pra magra), já até exagerou pro lado feminista, já esteve por cima. E o pior que isso, justamente isso, foi majoritariamente decidido pelos homens, decidindo o que era mais cômodo enquanto as mulheres se ocupavam com seus excessos proliferativos. Aí está o segredo.
Nas origens ocidentais, greco-romanas, houve um tempo em que as mulheres só não eram desprezíveis por sua função reprodutiva e às vezes como organizadora do lar. Mas até a beleza era exclusividade masculina, e um homem só dava prazer a outro homem.
Durante outro período um tanto turvo, a imagem da mulher era então a beleza. A pura beleza. Com suas nobres damas européias, madonas e virgens. No entanto eram incapazes de inteligência e força de qualquer tipo. Eram delicadas demais em suas peles cheias de pó de arroz, sob trezentas camadas de seda, com suas lágrimas e palpitações. Observe-se que no entanto, as prostitutas sempre foram consideravelmente fortes.
Os homens no entanto, que sempre foram encarregados dos trabalhos braçais e burocráticos, andam cansados, agora querem somente os papéis intelectuais e de controle. Agora é mais conveniente que as mulheres possam sim dirigir, possam ser cobradoras e etc. Já houve uma época, diga-se de passagem, que até enfermagem era profissão estritamente masculina.
E assim magicamente, de inúteis e feias passaram a inúteis e belas, e agora úteis e belas.
E (o que nos garante ascensão no mercado de trabalho) muito mais barateiras! Como é conveniente para os homens.
Hoje está tão certo pro mundo que a beleza suprema é a mulher, explorado em capas de revistas, na TV, cada milímetro de seus corpos curvescentes, que as próprias mulheres, provando a falta de instinto, acham as mulheres mais bonitas mesmo que os homens. O índice de bissexualismo/homossexualismo entre as mulheres, estimulado pelo machismo, cresce ferozmente. Confunde-se o que é contra o machismo e o que é forçado por ele.
Desde miudinhas aprendemos a supervalorizar nossos hormônios, a fingir que nosso lado racional é atrofiado, que não dirigimos bem, não podemos mexer em máquinas, exceto as de costura, que os vestidos brancos de casamento são a coisa mais linda do mundo, que devemos reprimir nossa promiscuidade diante da promiscuidade masculina, e a trabalhar TAMBÉM, além de cuidar da casa e dos filhos, o que é nosso papel "natural".
De qualquer forma, dentro dos meus conceitos machistas, da cultura impregnada em mim das unhas ao último pensamento, eu ainda escolheria ser "mulher". A mulher desenhada mesmo, fascinante debaixo de suas 7 saias de estrógeno, dos 7 véus do útero. Carregando os meninos na barriga, e todos seus sentimentos e estética nas costas.
Só que agora estamos decidindo. Estamos finalmente tomando pílula e indo opinar. E acredito que o mundo pode agora começar a ficar igualmente cômodo pra todos os sexos. Primeiro o homem e a mulher, depois o homem, a mulher, o gay.
Então aproveitemos, mulheres, e homens com senso de justiça. Lutemos pra sermos todos humanos e ponto, sem deixar que atrofie no que nos dizem que nascemos atrofiados, pra não ter que agüentar o que nos dizem que deve ser agüentado, pra todos os humanos poderem aproveitar igualmente tudo o que nossos sentidos , hormônios, sexualidades nos permitem, e quando queremos. (e continuemos o processo evolutivo abolindo o funcionalismo sexual, escolhamos nós mesmos se queremos ser Der, Die, oder Das, e o que é Der, Die e Das.)
Uma sociedade tão rica em variações de personalidade, jamais seria andrógina, mas poderia certamente ser justa.
Muita libido a todos, todas, e tod@s.
Mary Fouleaux
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Eita, verborragiei neh?
:P
:***
6:44 PM
Super Gut!!!:O
Texto incrivel Mary Fouleaux!! Acho que você acabou de enriquecer 1000x o nosso saudoso borrachudo camarada. Que é um ser que representa o equilibrio entre o Ying e o Yang (Ou o feminino e o masculino), não sendo tão pouco um, nem outro. Hoje eu estava caminhando pelo bairro e percebi o protesto feminista, que se juntou com os Fora Bush e fizeram um movimento meio estranho.No final das contas, as mulheres esqueceram o protesto contra o machismo e se juntou ao coro "Bush, Fascista, você é terrorista", colocando nas costas dele a raiz de todos os problemas da galáxia (porque não?) Bem, deixarei isso pro meu texto amanhã; continuando a série "feminismo"...Tschüss
11:20 PM
MAry, pra uma dita machista vc se saiu mais feminista que muitas feministas.... E disse tudo: o poder de escolha é que há!!! E não essa escolha fajuta que a Globo diz que a gente tem!! Amei mesmo!!!
E Galileu, antes de serem feministas elas s~çao humanas, que tmabém sofrem por causa da fome, da miséria, da falta de dinheiro, de escola. Vc pretende que cada setor social se feche na luta que trazem no nome? Temos que lutar por transformações para tod@s sim!!! E eu não sei se ele é a raiz de todos os problemas da galáxia não, mas que ele é boa parte do tronco, é!! hahaha to brincando!
3:14 AM
Quando eu crescer eu quero escrever um texto assim... igual ao da mademoiselle Fouleaux...
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