Tem acontecido esses dias, no condomínio onde moro, coisas interessantes. A síndica, Dona Precisa*, viajou há quatro meses, deixando o “governo” nas mãos de seu Discreto, pessoa muito honesta, e de esquerda. De repente, preciso do salão de festas para receber meus amigos e amigas, e descubro que seu Fofolete é que está assumindo seu cargo de sub-síndico. Instala-se o caos. O elevador social está condenado, precisa ser trocado, mas o senil Fofolete não consegue subir alguns degraus do elevador de serviço, exige que ele fique ligado, e como disse um dos meus amiguinhos pueris do prédio, “É só ter fé em Jesus”. Só pra garantir, só ando acompanhada no elevador social.
No quinto andar, os novos moradores faziam um serviço no encanamento que exigia que as torneiras ficassem fechadas. Mas eis que seu Fofolete tinha uma reunião em seu apartamento, e por isso as torneiras tiveram, a suas ordens, que ser reabertas, e o quinto andar poderia ter inundado. Não bastante, seu Filmar, o porteiro do dia, questionou a decisão do síndico, e foi chamado de preto e demitido! A resistência dos moradores e moradoras foi tanta que obrigamos praticamente seu Filmar a vir trabalhar normalmente, até a reunião do condomínio, que aconteceu ontem. Nosso não-querido senil, achou muito bom que seu Filmar não o tivesse processado por racismo, praticamente deu Graças a Deus por isso, mas não achou errado ter sido racista. E além de tudo, não pediu desculpas a ninguém, pois em sua consciência não cometeu nem um erro, pois como bom déspota, ops, tirano... não... síndico em exercício, tem o poder de fazer o que quiser. A regra é, ta pegando fogo? Não chama bombeiro, entra em contato com ele pra ver se é possível a entrada de bombeiros no prédio. Parece até brincadeira né?
Pra terminar a reunião, afirmou várias vezes não ser palhaço, pois era o que estávamos fazendo, chamando-o de palhaço (isso em psiquiatria chama-se alucinação auditiva), e explicou toda a sua trajetória pela política, no movimento estudantil e sindical, recebeu até bônus do sindicato pois, sendo pobre, não tinha mais dinheiro para pagar as mensalidades e o lindo sindicato ajudou! Isso tudo porque uma moradora, simpaticamente, quis explicar que ele era uma pessoa ótima, mas talvez não tivesse jeito pra gerenciar algo. Foi nessa hora que saí, afinal tenho coisa melhor pra fazer, a escutar esse senhor falando que não quer que o acusem do que acusaram Lula, pois odeia Lula. Na hora pensei, “Ora, é Lula lá... quero saber do condomínio, e nem me venha com papo de Lula que daqui a pouco a história vai ser ‘eu não sabia’”. Mas resolvi ficar calada e respeitar a senilidade alheia.
Mas o que mais me chamou atenção nessa bagunça toda, é algo que na verdade me bota medo... o futuro. Não o futuro “o que vou ser quando crescer”, o futuro ideológico, ou “como eu vou pensar o mundo quando eu crescer”. E essa é a moral da história, que se resume bem na frase do meu irmão:
* Os nomes foram modificados de modo a preservar a identidade não dessas pessoas da história, mas a minha.
J. K. Wasvuden
Lembro-me que as ultimas respiradas patixistas que eu dei foi na época que a moeda corrente era a cabeça de gado. E que todo esse espaço de tempo que tirei de férias do nosso querido-amado-quase-abandonado amigo borrachudo foi por falta, sim, de algum reconhecimento de nossa rara e cada vez mais escassa parcela highbrow da sociedade. Por isso, acabo fazendo meu bom e velho paralelo, que um bom blog ou uma boa publicação não faz sucesso para aquele publico de 80% que passa a noite jogando jogos online e apertando F5 no orkut pra ver os scraps que podem ter chegado nos últimos 5 segundos. O elitismo da escrita existe e meus caros, perceber que popularidade nem sempre é sinônimo de qualidade nesse meio, não é algo que chamamos de difícil e nos faz abrir os olhos para o que realmente deve ser valorizado ou não, quando recebemos algum comentário.
E para entrar no espírito quase festivo de estar escrevendo aqui de novo, peço que os leitores que tiverem um tempo comentem várias vezes com nome diferente, assim posso me iludir que tenho um vasto público e ao mesmo tempo, acreditar novamente na possibilidade de mentes pensantes existirem no famoso buraco negro chamado Brasil (O nacionalismo em alta).
Essa frase pode soar meio kitsch, mas dêem um desconto para um frustrado escritor que passou tempos à “beira de um ataque de nervos”.
