Ensaio sobre a pós-adolescência indie- Parte Um
Sentou-se, cruzou as pernas quase femininamente e a olhou com um leve ar blasé sob seus óculos de lentes finas e armação espessa. Tomou do copo de destilado-misturado e começou a divagar sobre Truffaut e Godard.
Depois da longa verborragia, duas interlocutoras magras e torpes sorriam. Uma pensava em ir pra cama com o amigo dele. A outra pensava que sempre preferiria o cinema italiano, e dane-se a nouvelle vague. Notadamente, a primeira era a que estava mais embriagada. Assim, a primeira retirou todos os copos espalhados perto dela e prometeu aos convivas enchê-los novamente, saindo meio desajeitada, cuidando do vestido pra não dar “lances”. Na volta ela derrubou Hi-fi no vestido, deu um sorriso sem graça e depois tentou jogar um ar de indiferença pra ver se colava.
O boçal agora falava sobre música. Sobre “MPB de verdade”. Depois sobre conceitos artísticos quaisquer, havia neles sempre um ar de delicatessen barata que a segunda ouvinte detestava.
De repente, surgiu uma esperança de diversão para a moça mais sóbria: a boa e velha fofoca sobre um casal que se desfez.
A bêbada então pegou o celular, e ligou para a amiga, triste "vítima" do relacionamento comentado. Ela sorria. Sorria grande enquanto declarava suas saudades e amizade, e mandava a amiga esquecer "aquele safado". Sorria grande porque estava na frente de sua própria pretendida vítima: o amigo do boçal. E falava sobre como existem milhões de homens no mundo, e pra amiga curtir porque isso a deixava com um ar promíscuo e indomável que supostamente iria atraí-lo. Ele era descolado, e provavelmente adorava mulheres independentes.
Na verdade ele admirava, não de um jeito qualquer, mas de um jeito que se vê uma mulher e seu poder que só outra mulher consegue enxergar e admirar. As mulheres, e os gays.
Nessa parte começa a tocar um barulhinho de teclado, um tom oitentista. A moça sóbria entediada subiu aos olhos um brilho, e chamou a embriagada pra dançar. Ela não perderia a oportunidade. O boçal suspirou, detestava aquela música, mas sabia que a nostalgia era algo de que ele deveria gostar. E se perguntava se a bêbada dançava para ele, se congratulando da sua cultura sedutora.
O outro, o amigo, começou a dançar com a moça logo, fazendo algumas graças, entendeu como seria o fim de sua noite. Tirou dela no entanto o copo de vodca, porque ninguém quer uma mulher depois da sétima dose.
O boçal ligeiramente desapontado começou a criticar a bêbada pra alguma sei-lá-quem que fazia figuração na festa. Resolveu que qualquer coisa era melhor do que a aridez oitentista que se instalou naquela sala, e foi pro jardim se juntar aos outros que deveriam estar jogando ou fumando um.
(continua..)
by Mary F.
Depois da longa verborragia, duas interlocutoras magras e torpes sorriam. Uma pensava em ir pra cama com o amigo dele. A outra pensava que sempre preferiria o cinema italiano, e dane-se a nouvelle vague. Notadamente, a primeira era a que estava mais embriagada. Assim, a primeira retirou todos os copos espalhados perto dela e prometeu aos convivas enchê-los novamente, saindo meio desajeitada, cuidando do vestido pra não dar “lances”. Na volta ela derrubou Hi-fi no vestido, deu um sorriso sem graça e depois tentou jogar um ar de indiferença pra ver se colava.
O boçal agora falava sobre música. Sobre “MPB de verdade”. Depois sobre conceitos artísticos quaisquer, havia neles sempre um ar de delicatessen barata que a segunda ouvinte detestava.
De repente, surgiu uma esperança de diversão para a moça mais sóbria: a boa e velha fofoca sobre um casal que se desfez.
A bêbada então pegou o celular, e ligou para a amiga, triste "vítima" do relacionamento comentado. Ela sorria. Sorria grande enquanto declarava suas saudades e amizade, e mandava a amiga esquecer "aquele safado". Sorria grande porque estava na frente de sua própria pretendida vítima: o amigo do boçal. E falava sobre como existem milhões de homens no mundo, e pra amiga curtir porque isso a deixava com um ar promíscuo e indomável que supostamente iria atraí-lo. Ele era descolado, e provavelmente adorava mulheres independentes.
Na verdade ele admirava, não de um jeito qualquer, mas de um jeito que se vê uma mulher e seu poder que só outra mulher consegue enxergar e admirar. As mulheres, e os gays.
Nessa parte começa a tocar um barulhinho de teclado, um tom oitentista. A moça sóbria entediada subiu aos olhos um brilho, e chamou a embriagada pra dançar. Ela não perderia a oportunidade. O boçal suspirou, detestava aquela música, mas sabia que a nostalgia era algo de que ele deveria gostar. E se perguntava se a bêbada dançava para ele, se congratulando da sua cultura sedutora.
O outro, o amigo, começou a dançar com a moça logo, fazendo algumas graças, entendeu como seria o fim de sua noite. Tirou dela no entanto o copo de vodca, porque ninguém quer uma mulher depois da sétima dose.
O boçal ligeiramente desapontado começou a criticar a bêbada pra alguma sei-lá-quem que fazia figuração na festa. Resolveu que qualquer coisa era melhor do que a aridez oitentista que se instalou naquela sala, e foi pro jardim se juntar aos outros que deveriam estar jogando ou fumando um.
(continua..)
by Mary F.
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Acho que por uns nomes nos personagens de vez em quando ajudava..mas estou ansioso pela segunda parte - espero que não seja que nem as séries de um episódio só do Galileu Fikaporay.
11:06 PM
rei ei ei ei
9:35 PM
clima oitentista me parece legal. já não digo o mesmo de mulher depois da sétima dose de vodca, ou qualquer outro destilado. hehehe.
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