O Patinho Amarelo

É mais fácil do que se imagina. Basta ser razoavelmente famoso, falar em uma entrevista razoavelmente importante, e fazer uma afirmação razoavelmente preconceituosa ou desdenhosa e que, de quebra, fira os direitos humanos. Ou fazer uma metáfora sem pensar. Esta, claro, também de forma razoável.

Das duas coisas que não voltam, como dizia o ditado, a palavra é uma delas. E as pessoas nunca aprenderam isso. Lembro-me de uma afirmação de Bill Gates em 2003 que ele dizia: “ Se a GM tivesse evoluído tecnologicamente tanto quanto a indústria de computadores evoluiu, estaríamos todos dirigindo carros que custariam 25 dólares e que fariam 420km/L". A GM respondeu com uma série de respostas categóricas e inteligentes, dentre elas: “Se a Microsoft fabricasse carros, em um acidente, o sistema de airbag perguntaria: ‘Você tem certeza que quer usar o airbag?’ antes de entrar em ação.”. Uma única analogia de Gates foi motivo de brigas públicas entre as duas empresas neste ano, sinceramente, uma perda de tempo.

Outro caso famoso e que virou bordão no Brasil inteiro foi a afirmação de Suplicy, em plena crise aérea, e com pessoas empilhadas em recintos por 48 horas suplicando por meio avião pra voltar pra casa. Foi quase como rir dos esfomeados enquanto mastiga uma asa de galinha temperada com batata. É fácil rir de quem toma sol quando você toma limonada. Mas pedir perdão publicamente, fingir que nada aconteceu e achar que todos vão sorrir e apertar a sua mão é forçar a barra.

E agora, mais recentemente, não é surpresa que chega o presidente da Philips, Paulo Zottolo, integrante do já famoso movimento CANSEI, e numa entrevista ao jornal Valor Econômico aclama, como se tivesse falando de um objeto inanimado qualquer, que: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir, ninguém vai ficar chateado.” . O mínimo que se pode esperar de alguém que faz uma afirmação dessa é que ele, na sua inocência e ignorância, suspeitava que 2.673.176 pessoas (IBGE/1996) iam se sentir orgulhosos e ficar quietinhos com uma pedra dessas na garganta. Além de arranjar 6% da população brasileira como inimiga, teve que agüentar a resposta do governador do estado, Wellington Dias. As desculpas, usuais, vieram poucos dias depois.

No fim das contas, até que não é tão difícil assim sujar seu nome, ser tida como uma pessoa de idéias preconceituosas e imbecis e virar uma quantidade considerável de pessoas contra si mesmo. É só uma questão de “Relaxar e gozar”.

Thyagu.

Esse artigo foi publicado em 30 agosto, 2007 às 00:45. Você pode seguir até o fim e deixar um comentário.